quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ascensão e Queda dos Piqueteiros Virtuais

Tarde da noite, ainda nem madrugada, ele murmurava para as estrelas. Numa rua escura por onde ninguém passava, entre o muro alto e o rio, ele declamava para os cagalhões descendo pela corrente fraca e para sacos de lixo que flutuavam pelas calçadas.

O outro surgiu sem ser percebido na rua escura. Vinha manso, mas poderia ter se aproximado a bordo de um tanque e também não seria notado, pois era grande a distração dele.

Repetiu em voz alta as palavras que ele havia murmurado, ou também estava falando sozinho pela noite adentro? Por certo falavam parecido. Ele perguntou seu nome e o outro disse. Muitas outras frases e pensamentos foram trocadas. Dentre elas, algumas definitivamente irrelevantes para qualquer outra pessoa que não estivesse naquela sintonia especial.

A noite se desenrolava e as idéias também, quando concluíram que poderiam muito bem seguir juntos, falando sozinhos pela escuridão. Mas concederam também que não era de suas naturezas concordar com alguém, muito menos pensar com a cabeça de quem quer que seja, muito menos o Papa. De novo imaginaram que deveriam ter um... Objetivo! que os congregasse numa missão importante.

"Morte certa? Nenhuma possibilidade de sucesso? O que estamos esperando?" (Gimli, em Senhor dos Anéis)

Ele jogou uma idéia antiga, de fazer um dicionário de palavras corrompidas, revelando o sentido ideológico de expressões utilizadas pela retórica atual em todas as atividades modernas, algo assim. Ambos julgaram tarefa estafante. Um e outro sugeriu seguir assim, só falando sozinhos. Logo adiante, o outro disse que se estavam reunidos na rua, deviam combinar pelo menos ir beber uns gorós ou mesmo um café.

Insustentáveis, concluíram de novo que deviam fazer alguma coisa, além de falar sozinhos. Afinal, eram dois caras que se achavam diferentes e meio loucos, que diziam coisas que as outras pessoas poderiam gostar e isso de falar sozinhos pela noite era uma coisa esquisita, mesmo para os seus padrões distorcidos.

"Quem investe contra moinhos de vento, na cabeça os tem." (Sancho Pança, em Dom Quixote)

Aí tiveram a idéia do que fazer. De primeiro veio o título: Piquete Virtual.

Era assim: usariam suas vozes na noite para mandar mensagens a todos esses sujeitos que só fazem cagada em seus postos de poder. Mandariam e.mails aos políticos, deixariam Comentários nos sites e blogs de todos os formadores de opinião, jornalistas, corporações, juízes e delegados. Fariam isso aos milhões, agregando as pessoas dos blogs, do orkut, do twitter e do diabo a quatro. E cada mensagem começaria assim: Esta é Uma Ação de Piquete Virtual, Nossa ação pretende (descrever o motivo do protesto).

Encheríamos caixas de mensagens e Comentários com mensagens, num verdadeiro Piquete Virtual, fazendo o alvo tomar juízo, desistir de levar a propina, impedir a Lei absurda, prover de saneamento básico e tudo mais. Cara, podíamos mudar o mundo confortavelmente de dentro de nossas casas, sem levar bordoada de PM, sem engasgar com gás lacrimogênio e sem ficar rouco de gritar. É só mobilizar a moçada! Seríamos seguidos como salvadores, nossos blogs iam bombar!

A idéia percorreu os dois como uma descarga elétrica. Sentiam como se seus planos já pudessem ser ouvidos, como se fossem portadores de uma praga do bem que se alastraria pelo universo, dando finalmente um objetivo a todos esses blogueiros que vicejam silenciosos e que só esperam um líder para seguir até os confins do inferno.

Assim, separaram-se na noite cuja quietude era uma ofensa à retumbância de seus pensamentos.

Afinal, quem tinha tanto tempo para tudo isso? Usar aquele sistema de mandar um monte de e.mail para um monte de gente, era um mistério. Convencer tuiteiros a fazer alguma coisa séria é tarefa impensável. Aquele povo todo do orkut só pensa em mandar abobrinhas e budipokes uns para os outros. E da onde entra a grana? Tinham que seguir zumbizando no trabalho para entrar algum, sempre da mão prá boca sem sobrar nenhum.

Que se futriquem os políticos e todo o resto, pois o mundo segue inexorável para o abismo e não vou ser eu quem vai se meter na frente e ser atropelado.


É triste concordar, amigo...


Lendo o post do meu amigo Malanski, começei a divagar, imaginado as cenas que ele tão habilmente descrevia, e de imagem em imagem, vi centenas, milhares de slides, de outra tantas situações como aquelas, que tenho assistido nos jornais, no decorrer dos meus dias. Vi também imagens de outros tipos de crimes, cometidos pelos mesmos personagens (ou um parente qualquer), e de "formação de quadrilha" a "quebra do decoro parlamentar", não consigo ver diferença alguma.

Afinal, pra que serve o CONSELHO DE ÉTICA? Será que ELES SABEM O QUE É ÉTICA?

Um promotor matou um rapaz, na saida de uma boate, há pouco tempo, porque o outro havia xavecado a sua namorada. Uma juíza foi pega num grampo telefônico, negociando com um assassino de aluguel, a morte de um desafeto. E o que dizer de todos esses maníacos miseráveis, que se utilizam do poder pra abusar de crianças, DE TODAS AS FORMAS? Podíamos perguntar pro deputado Seffer, afinal, disso ele entende!

Se isso não fosse o bastante, temos TODOS OS VELHOS PROBLEMAS CLÁSSICOS DO BRASIL, que como sabemos, na sua maioria, tem origem em alguma esfera política.

Sufoquei de raiva. Respirei fundo pra clarear as idéias.

Nesse ponto parei, acendi um cigarro, e resovi passar a bola adiante...

Afinal, o que mais podemos fazer?

Seja um de nossos autores!

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