sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Inconsciente (confusamente) Coletivo


Voltamos às origens, ao primata, ao ininteligível. É curioso constatar esses fatos agora, em um momento da história em que vivemos a plena efervescência da ciência, da tecnologia e (pasmem!), da comunicação. Como podemos viver tal paradoxo? Até parece que o excesso de informação causou uma confusão mental nas pessoas que ninguém mais se entende; quanto mais conhecemos a sociedade, menos queremos nos associar. De fato, em alguns casos deixamos até de ser sociáveis, uma vez que percebemos que nessa confusão, ninguém sabe em quem confiar. Políticos corruptos, policiais criminosos, cidadãos desonestos. Por outro lado, temos ecologistas assassinados, crianças seqüestradas, jovens espancados, índios queimados, balas perdidas, balas achadas, gente morrendo nas baladas, e a lista não termina.

Parece não haver mais limites para a barbárie. Qualquer motivo simples é o bastante para tirar a vida de alguém. Imagino que nem todos querem matar, mas é a capacidade que tem de infringir danos a outrem sem escrúpulos, arrependimento ou hesitação o que assusta; matar é a conseqüência, muitas vezes não desejada mas nem ao menos cogitada no momento de fúria, ou adrenalina, dependendo do caso. O uso de substâncias psicoativas também tem um papel fundamental no mau julgamento e no senso crítico das pessoas, sobretudo das que cometem crimes, pela própria tensão das situações em que geralmente se envolvem como assaltos, tiroteios, fugas, vinganças... O ciclo se repete; e a violência só aumenta.

Violência... Conhecemos tantas formas de violência que ás vezes, me custa acreditar que ainda haja mais que isso a se fazer com as pessoas. Contudo, minha razão me diz que infelizmente há, que não há limites para a imaginação e para a crueldade humana. Ninguém está seguro, em lugar algum. As grades são para nós, as ruas não.

Lembro de um proeminente corrup...(ops) político do estado do Pará, que ao ser questionado sobre a segurança pública no Estado, saiu-se com essas: “-Não há isso de insegurança pública, como estão dizendo, o que há é apenas uma sensação de insegurança”. Pode? Pode, ele tem carro blindado.

O que não pode é menores criminosos continuarem matando porque a lei os protege. Não pode é nossas crianças sendo raptadas, molestadas, mortas ou aprisionadas por anos em porões escuros. O que não podemos é consolidar o estilo Isabella de morrer. Não podemos é continuar comprando armas em concessionárias, para usar com munição etílica. Não podemos continuar tratando com tanta leviandade a única coisa valiosa que de fato temos, a vida.

E o que podemos fazer? Só a nossa parte, por menor que seja. Uns salvam vidas com remédios, outros com canetas. Alguns com a música te ensinam a sorrir, outros com as palavras que escrevem, te ajudam a pensar.

Sozinho no escuro (alone in the dark)

O que de fato significa estar só? Às vezes, estamos imersos na multidão e nos sentimos sós. Às vezes, trancados no silêncio do quarto, madrugada a fora, estamos mais acompanhados do que nunca. O coração não está só. A mente se acalma; ela sabe, e é o bastante.

Quantas vezes recebemos condolências de quem não se importa, apoio de quem de fato só nos que mal, sorrisos que querem nos devorar, aos pedaços. Quimeras e falácias. E pra nós, solidão.

Todos querem estar com alguém; poucos entendem o que isso significa. “Estar” além do físico, do presencial. Estar dentro de alguém é habitar mesmo, outra vida. É povoar pensamentos, é invadir os sonhos. Estar é mais que um verbo auxiliar, é um estado de espírito. É algo que não se força, se sente. Não se cobra, se espera.

O que dói mesmo é perceber que tantas pessoas tão importantes pra nós têm consciência de que o são, e ainda assim, não estão.

O país onde moro

Puta merda! A gente se ferrou de novo! Digo a gente do ponto de vista do oprimido, irmão meu, sangue do meu sangue, sangue brasileiro. Todos nós estamos entre os fogos cruzados, de todos os tipos.

“Mas se ergues da justiça a clava forte,

Verás que o filho teu não foge à luta,

Nem teme quem de adora à própria morte.

Terra adorada, entre outras mil és tu Brasil, ó pátria amada,

Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada Brasil.”

Bonito, não é? Também me arrepio, sou brasileiro! Mas... Experimente cantar com a barriga doendo, fazendo dupla com a fome. “– Vai procurar trabalho!” precisa de estudos (como? Onde?) e ter saúde, mas desse jeito? Ferrou de vez... Estamos patrocinando especializações, mestrados e doutorados em corrupção, tramóias e afins. E como eles aprendem rápido no planalto central!

Daí os fundos, no fundo, estão à amostra. A saúde vira suruba, e mesmo relaxando, não dá pra gozar. Nós não, pelo menos. O cara morreu, a TV mostrou, todo mundo viu. E aí? A morte deve estar de férias por aqui. Mas pra não perder o costume...

- mãe, to sentindo um zunido no ouvido...

- abaixa aí moleque! Quer encontrar uma bala perdida?

Perdidos estamos nós, as balas é que nos acham. Cadê as criancinhas? Traficadas como bichos, ou menos. É carro-bomba, homem-bomba, e essas bombas só explodem na gente.

“Colapso na saúde”, “crise aérea”, “problemas na agricultura”, “quebra de decoro parlamentar”. Estamos ampliando a língua, criando novos hábitos idiomáticos, fazendo escola, ou melhor, não fazendo escolas! E o povo continua totalmente analfabeto quanto à essa língua, tão atual e recorrente, o safadez!

E todos falam fluentemente: traficantes e senadores, polícia e bandidos, homicida e juíza. Claro, todos aprenderam na mesma escola. Escola essa, aliás, também freqüentada pelos seus filhos, que se reúnem à noite, para espancar empregadas.


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Ps.: Eu sei que todos os fatos citados no texto já são história antiga (como qualquer crime com mais de um mês, no Brail), mas gostei do texto e o achei pertinente na época. A bem da verdade, mesmo agora, é só mudar os exemplos a ainda fará sentido. Infelizmente.

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Texto Original: Guilherme Castelo

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